23 de julho de 2008

Café Santa Cruz


"Se queres reparar nos desenhos nos três vitrais de entrada, deves chegar ao meio da tarde, e obrigar-te a não ter pressa. Em Coimbra vive-se devagar. É bom. Conheci poucos lugares onde reinasse assim tão absoluto o esplendor do incomum. Cada mesa tão diferente da outra: um pintor rústico que faz dos dedos pincéis; dois namorados que já saíram com a pressa física do amor; o velho reformado que lê pela décima vez o jornal da véspera - ou ainda o que registra envergonhado estes versos. Desiguais abismos, maneiras de se estar só, encontram aqui um abrigo temporário, senão a própria rasura do tempo. Pouco importa. Abandona-se, finalmente, ao mundo dos desenhos nos vitrais. É tudo o que precisas. Uma música feliz perde-se na tarde. E as lágrimas, afinal, são uma espécie de sorriso."

(...)
"Beijaram-se muito naquela escura taberna. Eram novos. Mas acreditavam excessivamente na colisão do afeto - e por pouco não os apedrejaram, alegando, por exemplo, que é proibido o amor a quem manifeste sintomas inequívocos de estar apaixonado. Este país, de fato, é um cemitério sem saída."


- manuel de freitas é poeta, tradutor, crítico literário, editor e diretor da revista portuguesa telhados de vidro.
Revista Piauí, ed. 22.

arte: Maikon Nery

Um comentário:

Giovanni Lucas disse...

hallo baby!
sempre dou uma zapiada por este blog genial!

gde bjo!