5 de janeiro de 2007

Vem cá.

"Considerando a frio, imparcialmente, que o homem é triste, tosse e, sem embargo, se alegra em seu peito colorido; que a única coisa que faz é compor-se de dias; que é lôbrego mamífero e se penteia... Considerando que o homem procede suavemente do trabalho e ressoa chefe e soa subordinado; que o diagrama do tempo é constante diorama em suas medalhas e, semi-abertos, seus olhos estudaram, desde distantes tempos, sua fórmula famélica de massa... Compreendo sem esforço que o homem fica, às vezes, pensando, como querendo chorar, e, sujeito a estender-se como objeto, se torna bom carpinteiro, sua, mata e depois canta, almoça, se abotoa... Examinando, enfim, suas contraditórias peças, sua latrina, seu desespero, ao terminar o dia atroz, apagando-o... Considerando também que o homem é na verdade um animal e, não obstante, ao voltear, me dá com sua tristeza na cabeça... Compreendendo que ele sabe que o quero, que o odeio com afeto e me é, em suma, indiferente... Considerando seus documentos gerais e examinando com lentes aquele certificado que prova que nasceu muito pequenino... faço-lhe um sinal, vem, e lhe dou um abraço. " (César Vallejo, tradução por Ferreira Gullar.)

Nenhum comentário: