30 de janeiro de 2007
Sismar, amar...
Ferreira Gullar
14 de janeiro de 2007
Saudadezinha inconseqüente
11 de janeiro de 2007
Fome de amor cortês
Abre parênteses
10 de janeiro de 2007
Pra não dizer que não lembrei das flores.
1968 , Rua Maria Antônia, prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. A porta da sala de aula é aberta como se tivesse levado um coice e aparecem três soldados armados com metralhadoras. Diante de 200 alunos, a professora de Ciências Sociais, Jessita Nogueira Moutinho, de 24 anos, encara bem os soldados e, com voz firme, pergunta:
- Vocês são meus alunos?
-Não, mas é que estamos procurando uma pessoa e...
-Isto aqui é uma sala de aula e aqui dentro só ficam o professor e alunos. De maneira que vocês podem se retirar. Se vocês querem pegar alguém não será em minha aula. Com licença, por favor.
A professora indica a porta, os soldados saem e esperam do lado de fora. Quando a aula termina, os soldados entram de novo, mas o tal aluno, claro, já estava longe.
No início de 1970, Chico volta ao Brasil em meio a um estardalhaço (organizado por recomendação de Vinícius), que incluía especial para a Globo, show no Sucata e o lançamento do LP Chico Buarque Vol 4. Mas o Brasil não era aquele descrito nas cartas de André Midani. A tortura e desaparecimento de pessoas contrárias ao regime do general Médici eram uma constante. O ufanismo do ditador ("Ninguém segura este país") aderia aos carros ("Brasil, ame-o ou deixe-o", quando não "Ame-o, ou morra!"), e a algumas canções populares ("Ninguém segura a juventude do Brasil"), tudo isso no ano que a seleção canarinho conquistaria o tricampeonato mundial. Chico fez "com os nervos mesmo" Apesar de você e enviou para a censura certo de que não passaria. Passou. O compacto com Desalento e Apesar de você atingia a marca de 100 mil cópias quando um jornal insinuou que a música era uma homenagem ao presidente Médici. A gravadora foi invadida, as cópias destruídas. Num interrogatório quiseram saber de Chico quem era o VOCÊ: "É uma mulher muito mandona, autoritária", disse ele.
(Muito bom, Chico! Muito bom.)
Juntos, viram o homem pisar pela primeira vez na Lua, em julho de 1969. À distância, acompanharam o surgimento da luta armada no Brasil, o primeiro seqüestro de um embaixador estrangeiro para obter a libertação de prisioneiros políticos, o dramático esfarinhamento da esquerda brasileira em miríades de grupúsculos. Em novembro, Toquinho resolveu voltar. No último dia, foi ao apartamento de Chico e lhe mostrou um samba ainda sem letra. Só então teve coragem de contar que estava partindo. "Fiz essa música de saudade mesmo", disse, "vou embora amanhã". Era o Samba de Orly, com todo aquele clima de exílio, de impossibilidade. Toquinho conta que Chico fez na hora os versos finais:
E diz como é que anda aquela vida à toa e se puder me manda uma notícia boa
Bem depois, quando estava preparando o LP Construção, Chico convidou Vinícius para ajudar na letra. Três dos versos que o poeta escreveu:
pede perdão pela omissão um tanto forçada...