28 de junho de 2007

O tom sério que essa tal de opinião faz a gente adquirir.


Considerações minhas para o poema "Tempos Modernos", de Brecht.
Abre parênteses para o poema:















"Os tempos modernos não começam de uma vez por todas.

Meu avô já vivia uma época nova
.
Meu neto talvez ainda viva na antiga
.
A carne nova come-se com velhos garfos
.
Época nova não a fizeram os automóveis
Nem os tanques de guerra

Nem os aviões sobre os telhados

Nem os bombardeios.
As novas antenas continuam a difundir as velhas asneiras.
A sabedoria continuou a passar de boca em boca."
Fecha parênteses. Brecht é lindo.


Assim não caminha a humanidade.
Ao contrário do que afirmavam as mais mórbidas previsões apocalípticas, o século XXI segue seus rumos pelos caminhos da História, tendo como protagonistas duas idéias contrastantes e paradoxais: a modernidade promovida pelos progressos tecnológicos e o avanço dos tempos, e a estagnação do homem, promovida pela manutenção do que há de mais arcaico no quesito humanidade: o impulso predatório.
Ocorreram, nos últimos séculos, descobertas científicas que de tão imponentes intimidaram os mais ferrenhos religiosos; o homem criou as condições para que fossem desvendadas barreiras tecnológicas que pareciam intransponíveis. Enfim, as descobertas, os aprimoramentos e os vertiginosos avanços, que constituem a parte positiva da modernização, têm maximizado a idéia ilusória de “deusificação” do homem, enquanto este se considera o ser supremo e expoente máximo do que há de mais moderno na sociedade. No entanto, a realidade não economiza exemplos que nos mostram o contrário dessa suposta evolução, uma vez que os progressos promovem mudanças apenas na forma; a essência permanece a mesma.

Contrariamente à quebra de barreiras científicas e/ou tecnológicas, o homem contrói barreiras invisíveis que separam a modernidade dos mais genuínos sentimentos humanos: destrói-se o sentido de humanidade em detrimento da ganância e cobiça. Assim, nota-se um descompasso na sociedade atual, em que as tecnologias progridem e o caráter duvidoso do ser humano permanece estático. Um exemplo dessa estagnação de caráter é a guerra no Oriente Médio, na qual países de diferentes etnias e religiões permanecem em constante conflito por “simples” orgulho e intolerância.
É (além de revoltante) assustadoramente triste, que num mundo que goza de todos os recursos necessários para uma qualidade de vida confortável, ainda haja casos de pessoas morrendo por falta de pronto-atendimento e negligência em Instituições de saúde pública que perecem por falta de verba, já que esta é quase sempre desviada para cofres de terceiros. O Brasil, país que carrega em seu histórico um vergonhoso passado escravocrata, aboliu a escravidão, mas não o preconceito, e não-raro vemos negros sendo tratados de maneira coerente com os moldes coloniais, exemplificando a mediocridade do ser humano.
Modernidade sempre existiu, e continuará a existir, ainda que subjetiva e até mesmo incoerente, já que o homem relativiza a modernização. O caráter humano é intrinsicamente mesquinho, ambicioso, materialista, o que não permite que este se enquadre no cenário das mudanças conseqüentes do processo de globalização. Portanto, a constatação que se tem é a de que numa sociedade que se sustenta sobre os mais arcaicos alicerces e se constrói ainda sob moldes coloniais, haverá de ser sempre relativo o conceito de modernidade; o mundo valse-se das mais evoluídas tecnologias, enquanto o homem não possui um quinhão das qualidades que conferem dignidade à humanidade. A uma sociedade baixa, ordinária e humanamente estagnada, ainda não cabe a tão sonhada modernidade. E agora, José?


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